terça-feira, 5 de junho de 2012

Racismo no Brasil Império X Racismo nos Estados Unidos da América



Obama e o Barão de Cotegipe



Foi muito comemorada a eleição de Barack Obama a presidente dos EUA por ter sido o primeiro negro a ocupar o cargo. Curiosamente, não foi nesses termos que o próprio Obama se definiu diante das câmeras de TV. Tive a oportunidade de ouvi-lo declarar que não era branco nem preto, mas mulato. Mãe branca e pai negro. Provavelmente se colocando como um ponto de união física entre duas raças cuja trajetória nos EUA foi marcada por um tipo de segregação aviltante. Legalmente, o negro americano chegou a ser definido como ¾ de homem. Isso para não mencionar a legislação dos estados americanos, em especial os do sul após a guerra da secessão, que criou todo tipo de empecilho jurídico ao pleno exercício da cidadania pelos negros. Por mais de século, vigorou a doutrina do “iguais mas separados”, com o devido respaldo da Suprema Corte americana, até que o movimento pelos direitos civis dos anos de 1960 levou a mesma corte a votar por unanimidade extraída a fórceps pela integração racial nas escolas, pondo um ponto final àquela hedionda lei.

De toda forma, negro ou mulato, foi um momento único na história americana. Assumindo-se como mulato, Obama também renegava a tradição de seu país onde uma simples gota de sangue negro era suficiente para que uma pessoa fosse declarada negra. Era como se fosse uma espécie de impureza que um branco não poderia carregar em seu sangue.

O caso brasileiro foi bem diferente. A mística do mulato e da mulata faz parte de nossa cultura desde muito cedo em nossa colonização. Gilberto Freire e outros nos chamam a atenção para a ocupação moura da península ibérica por sete séculos que teria feito com que o português se habituasse e se encantasse com a morenice das mulheres árabes. A miscigenação entre negros e brancos no Brasil reproduziu na cor da pele a beleza que já havia conquistado os lusitanos nos séculos anteriores ao descobrimento. 

As leis brasileiras nunca chegaram perto da paranoia de definir o negro juridicamente como um ser sub-humano, como ocorreu nos EUA. Não obstante, a influência cultural americana é tão forte que já nos fez até copiar instituições que nos são estranhas e, agora, até padrões de relacionamento entre brancos e negros que não se encaixam em nossas tradições. Alguma dose de sangue negro já rotula o indivíduo como negro na visão dos movimentos negros em nosso país. Ao invés de celebrar a miscigenação, preferimos, mais uma vez, copiar o modelo gringo de segregação entre raças. Pior: tendemos a ignorar o fato concreto que a população que realmente vem crescendo no Brasil é a parda, evidenciando um aprofundamento, para o bem de todos, das relações afetivas inter-raciais.

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